Baratas gigantes, cachinhos de cabelo, doações, direitos do monstro, a profundidade de Isaac, mentiras criativas, dor de dente, briga entre irmãos, irmãos coloridos, pai cuidador, filhos da mãe, bilhete de amor, imitador de cantores, duas mães, mãe que cria, coleção de processos, menina princesa, orixás médicos, mãe capeta, filha mãe, pai João, memórias plantadas, vó cuidadora, pai herói, idosa desprotegida, adoção à brasileira, sofrimento laboral. Estamos diante de uma miscelânea de vivências e sentimentos que nos convidam para ambientes muito familiares. O sentimento de familiaridade revela que nenhuma das histórias nos é estranha, que poderíamos figurar em muitas delas. Esse é o grande desafio e a beleza de se trabalhar com famílias: re-conhecer seu repertório, sua diversidade e suas semelhanças, sem mobilizar visões judicativas. Rosa Scarlett descreve, de maneira lúdica, as relações sociais vividas neste espaço que chamamos de “micro”, onde se reproduzem os valores e as práticas do “macro”: assimetrias nas relações gênero e de faixa etária, desigualdades das relações de cuidado e proteção, desconfiança sobre a capacidade das famílias de produzirem cuidado e proteção quando fogem de modelos considerados “estruturados”. Scarlett traz, com humor, histórias reais (embora compostas de modo ficcional) e nos convida a mirá-las sem os estigmas associados à origem de classe, de raça/cor, orientação sexual, deficiência, religião, profissões, evitando os juízos moralistas e as cobranças clássicas sobretudo em relação à figura da mulher mãe. Parafraseando Tolstói na célebre epígrafe de Anna Karenina, as famílias descritas pela Rosa Scarlett são semelhantes na sua felicidade e únicas nas suas dores.

Joana Garcia
Prof Titular da Escola de Serviço Social da UFRJ.
Pesquisadora sobre famílias (reais)
Rosa Scarlett
Desde pequena gosto de ler e de escrever. Apaixonada pelo cinema e com a mente criativa, ainda adolescente, eu imaginava histórias para colocar em livros e outras para filmar. Pensei em ser escritora, mas um precoce e terrível senso crítico me fez desistir e me tornei assistente social.
Tentei esquecer minha porção escritora, mas de vez em quando, eu voltava a imaginar histórias. Até que decidi voltar a escrever de forma artística, já que como assistente social escrevo relatórios sobre as famílias que atendo. Como escritora, meu manifesto é ressignificar, busco mostrar leveza e o lado belo que existe na vida, pois acredito que beleza e fantasia são porções que existem dentro de todos nós.
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